Entre aspas, sim, porque "Época de Exames" não transmite bem o terror que paira sobre  a FMUC em dias destes. 
Normalmente, a palavra "Exame" já seria suficiente para aterrar o mais comum dos estudantes universitários. Mas não, estudante de medicina tem c*lhões (terminologia científica) de aço blindado revestidos de ouro com diamantes incrustados e enfrenta de cara olheireinta uma infinidade de exames, orais ou escritos, por vezes no mesmo dia, quase sempre em dias consecutivos, das mais variadas cadeiras que já devia ter feito por frequência, mas que por motivos incógnitos, tem de fazer por frequência para ser sequer admitido a exame, ou então chumba que até anda de lado. Porque dizem que somos "uma elite" e tal. Bem, se elite quer dizer com falta de sono, vida própria e memória em disco, estamos no caminho certo. Se nos queixamos, ainda apanhamos com o típico "e as centenas de candidatos que davam tudo para ter entrado?". Comes e calas, belhote, que ainda tens a drenagem linfática do quadrante postero-supero-esquerdo do ligamento tirocostoesternoprancreaticocolicorectoesplenocárdico oblíquo para estudar, e o Netter e o Pina e o Martins cada um diz de sua sentença e ninguém sabe o que diz o prof. Antunes nas aulas porque estava tudo ressacado da latada... e mesmo que não estivesse não tinha entendido ponta de um corno do sacro daquilo que ele disse.

E assim se fazem as cadeiritas. Eu por cá, ainda não chumbei a nada, mãezinha, tenho tirado boas notinhas e está tudo "muito benzinho". A minha sanidade mental já viu melhores dias, o meu pescoço dói só de lhe encostar uma pontinha do dedo (especialmente na zona do processo espinhoso da C7) e a minha cabeça está cheia de pormenores ridículos da anatomia do tronco. Tenho saudades de casa. Tenho saudades de ter uma conversa com alguém da minha idade que não envolva medicina. Sinto a falta de uma noite completa de sono. Morre um pedaço de mim sempre que fico em casa fechada a estudar. E subitamente, penso... caramba, valerá a pena?

Caga nisso, há cenas piores.


PS: Secundário, volta, estás perdoado!!!!
 
Não sei o que escrever, confesso. Apenas me apetece escrever, qualquer coisinha, para não te deixar assim abandonado, blog. De qualquer modo, falta pouco para abandonar todos -  e ainda não decidi se é realmente bom para mim fazê-lo.

Digo a mim mesma que sim. Mesmo que não seja bom, é necessário. Inevitável. E por isso, já me conheces, acendo o positivismo que há em mim. Se bem me conheces, sabes também que volta e meia tenho maus-contactos e lá se apaga a centelha de esperança.
Não dura, dou a mim mesma uma murraça e lá se evita uma reparação a sério, desta vez.

...E vou-me entretendo, planeando os detalhes mundanos daquilo que será a minha vida - horários das aulas, dos autocarros, papelada para as matrículas, decorações para o meu quarto, etc... - passo horas a devanear com essas coisas, com as pessoas que hei de conhecer, com o que hei de estudar, com o que hei de viver. Assim impeço-me de pensar no que vou deixar para trás: a antecipação suga o sustento mental à saudade e à nostalgia, qual erva-daninha no meu pensamento. 

Não irei arrancá-la. Afinal, é esta a sua maior utilidade -- toda a gente sabe que estes planos engendrados antes do tempo se desmancham como castelos de cartas à menor brisa, mas enquanto duram povoam-me o cérebro. 

Não completamente. Há sempre um cantinho em que se perfila a imagem de uma despedida dolorosa.
Não te ofendas com a minha aparente indiferença. Guardo a tristeza para quando me for impossível continuar a adiá-la. Virá toda de uma vez, numa vaga gigante. Prometo não me afogar. Prometo manter-nos à tona.
 
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Hoje decidi-me sentir bonita. Sentir-me bem comigo mesma. É tão raro faze-lo ultimamente.

"Deus" sabe como este ano tem sido difícil para mim. Na ausência dos problemas do costume (i.e. família destroçada, encalhamento permanente, cansaço escolar), decidi inventar os meus próprios problemas. É sabido que sendo Maria João Brito estar plenamente feliz e satisfeita é um tédio, e uma condição impossível de manter por mais que alguns fugazes momentos.

Por isso agucei o meu perfeccionismo e daí em diante almejei a ideais que alcançáveis ou não me impunham regras e princípios cujo cumprimento era do mais vital para mim. Mas essas "leis absolutas" de como eu deveria viver a vida, restringiam-me, e ainda restringem. 

A antiga miúda que nos testes psicotécnicos tirava 1 em 10 no parâmetro do "cumprimento de regras" e 3 no "perfeccionismo" tinha-se tornado numa neurótica.

O pior é que grande parte do meu ideal de vida era inalcançável, e isso resulta numa tremenda frustração. Ninguém me compreendia, tirando o meu amigo Pessoa, que se não fosse o facto de ter morrido no século passado, teria sido um fantástico companheiro de devaneios acerca da soberba inutilidade da vida. E devia dar para apanhar umas sublimes bebedeiras com ele, também. Ora, sentindo-me apenas compreendida por poemas poeirentos de um louco morto e enterrado, lá me fui fechando sobre mim mesma... Um novelo enrolado para o lado de dentro.

A anti-sociabilidade que daí surgiu durou por uns longos meses, se não é que dura ainda. Deixei de ter paciência para as piadas, conversas e brincadeiras que sempre me divertiram... E se já antes era propícia a ser odiada com base na primeira impressão que a minha personalidade demasiado vincada deixa, a minha indiferença agravou o caso. Se já era insuportável, ainda mais insuportável fiquei.
E os outros, as pessoas, os amigos, eram insuportáveis para mim.

Se se estavam a perguntar porque é que eu tinha desaparecido do mapa, aí têm a explicação.

O único que ficou, ou o único a quem eu permiti ficar, foi o meu namorado, que dotado de uma paciência incrível lá ia lidando com os meus maus-humores, dramas e crises. Tempos negros, de facto.

Mas hoje estou melhor. Mais bem disposta. Há já alguns meses que me tenho vindo a libertar gradualmente dos meus complexos. A sentir-me um bocadinho melhor em ser eu. A aceitar que não posso ser outra pessoa.

Ainda assim, o que antes me sustentava tem-se vindo a degradar. Se antes estar com ele era melhor do que qualquer outra coisa que eu pudesse fazer (e por isso desisti de tudo o resto), hoje simplesmente não é suficiente*. A paciência dele para mim esgota-se cada vez mais rapidamente e idem quanto a minha para ele. As discussões e desentendimentos multiplicam-se. Palavras pontiagudas são atiradas, a ver quem fere mais o orgulho do outro. E assim se passam umas horas até tudo acabar em lágrimas e pedidos de desculpa e promessas que não podem ser cumpridas. Hoje que fazemos um ano e três meses, é só mais um desses dias maus que se têm vindo a tornar mais frequentes.

Mas hoje estou determinada a sentir-me bem comigo mesma, sabem? Tomei um longo duche, lavei o cabelo e esfreguei o corpo escrupulosamente, para me sentir imaculada. Espalhei creme no corpo, e até nos pés (esses pobres sacrificados que eu deixo gretar por não gostar deles) na esperança que amaciasse um pouco não só a minha pele como a minha alma. Pintei as unhas, ter as mãos bonitas prepara-as para a acção. E olhei ao espelho. Não me senti linda, é raro sentir. Mas não me senti horrível de todo, o que é um progresso em relação a ontem.

Olhei ao espelho. Tenho uma porta de oportunidades à minha frente. Abrir-se-á em um mês. Para quê agarrar-me tanto ao passado, se tenho a promessa de um futuro? Levo-o ao colo, na esperança que não se desintegre. Mas, caramba, se isso acontecer, tenho um mundo novo para agarrar. No entanto, aqui ando eu, de mãos ocupadas.

Olhei ao espelho. Tinha dedicado um tempo a mim, mas a mim mesmo, não à minha vida nem àquilo que nela se passa, para isso já sou egocêntrica que chegue nos dias normais. Olhei ao espelho e vi alguém que pode efectivamente ser independente e fazer algo de realmente brilhante. Olhei ao espelho e vi alguém que tem estado abafada por ninguém mais que ela mesma. Olhei ao espelho e vi possibilidades e sonhos e ambições.

Nunca deixarei de ser perfeccionista. Nunca deixarei de querer mais. Deixem-me ser assim, e pode ser que eu o aplique na direcção certa.

E desculpem pelos posts deprimentes. Eu prometo que o próximo será melhor.

* Edit após resolver discussão com o respectivo: Não é que não seja suficiente, eu gosto de estar com ele, é a melhor parte do meu dia, mas porra, estou tão farta de fazer as mesmas coisas e ir aos mesmos sítios... É mais estar farta desta cidade e ansiar desesperadamente por mais, por poder partilhar novidades e experiências novas, por ter algo divertidíssimo por fazer. O que não quer dizer que estarmos juntos é uma seca. É só que eu sou gananciosa: quero sempre mais e o que tenho nunca chega.